segunda-feira, 25 de junho de 2018

Aborto, privilégio de classe?



Hoje, num ato equivocado de esperança, cliquei em uma notícia na revistinha adolescente Capricho: "Por que as brasileiras estão protestando contra a criminalização do aborto?", pois que se trata de um tema que há muito me desperta a curiosidade. Ao perceber que se tratava de demagogia, resolvi escrever um contraponto rápido. Não vou entrar em questões morais sobre a corretude do aborto per se, isso é assunto para outro post.

O ponto central do texto (se é que dá pra chamar de ponto, uma vez que nada é verdadeiramente desenvolvido, apenas assunções são jogadas no ar como se fossem verdadeiras) é a ideia de que o aborto é um privilégio de classe.

Essa tese é sustentada na hipótese de que mulheres ricas podem pagar por uma clínica clandestina de qualidade, enquanto uma mulher pobre não pode fazê-lo. Isso é mentira, visto que legalmente, mulheres ricas não podem abortar. Privilégios são direitos especiais[1][2]. Dizer que o aborto é um privilégio das mulheres mais ricas, quando este é proibido por lei, implica em contradição, visto que a clandestinidade do ato tira seu caráter de direito. O aborto seria sim um privilégio dos mais ricos se fosse legal, mas custasse caro e não fosse acessível por rede pública.

Alguém poderia afirmar que existe privilégio na capacidade de descumprir a lei, um facilitante às ilegalidades. Esse raciocínio é, sim, verdadeiro, mas de nada serve à causa. Acontece que a existência da possibilidade de crime sozinha não justifica sua legalização, tampouco a existência de facilitadores o faz. Fazendo um rápido exercício lógico é facílimo de elencar inúmeros crimes e indivíduos que têm vantagens para cometê-los.

A ineficiência da legislação não serve para justificar a legalização, muito pelo contrário, deveria servir como incentivo a um aumento no combate ao crime. O "por que só ele pode matar?" deveria se transformar em "por que ele pode matar?". Afirmar o aborto como um privilégio nada mais é do que um truque para reafirmá-lo como o direito que não é.

Outro problema, este já específico do texto, é o uso de dados falsos para sustentar sua tese. O texto diz que 4 mulheres morrem por dia em decorrência de abortos clandestinos. Esses dados já foram desmentidos[3]: os números confirmados não chegam a 5% disso, e, embora uma porcentagem dos casos não seja descoberta, certamente não estamos nem próximos das quatro mortes diárias.

A inflação de números relacionados ao aborto não é uma novidade, e acontece em todos os países onde há lobby pela legalização do aborto, uma vez que a dificuldade de verificação dos dados dá forças às estimativas maldosas. Há diversas referências que demonstram como esses dados são forjados (incluindo adicionar à contagem abortos espontâneos e uma multiplicação por 6).[4]

A tentativa de estabelecer o aborto como problema de classe é especialmente perversa, porque é utilizada para justificar eugenia, estimulando o assassínio de nascituros por seus próprios pais em face da pobreza, mas também para ligar a pauta à luta de classes. Trata-se de um truque para adquirir partidários que põe mais uma vez à luz as sutis ligações entre o capital, o marxismo e o feminismo.

A melhor parte é no final: "Você não paga, é subsídio do Estado". kkkkkkkk


Referências:
[1] Aurélio, disponível em: <https://dicionariodoaurelio.com/privilegio>
[2] Michaelis, disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/busca?id=la1dO>
[3] Gazeta do povo, "Quais são os verdadeiros números sobre o aborto no Brasil", disponível em <https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/quais-sao-os-verdadeiros-numeros-sobre-aborto-no-brasil-ez2wi4lignffwy4hha6nff51j/>
[4] Palestra da Dra. Isabela Mantovani, "Aborto: a farsa dos números", disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Zaiy_H_m_T0>