sexta-feira, 20 de julho de 2018

Família Bolsonaro, neomalthusianismo e eugenia



Um dos principais alicerces da candidatura da família Bolsonaro é a grande porcentagem de cristãos -- e especialmente, de Católicos -- no país. Jair Bolsonaro se diz Católico, mas defende diversos pensamentos que estão em desacordo com a doutrina Católica e os princípios mais básicos da moral, e talvez o mais nocivo destes seja o neomalthusianismo.

Aos eleitores do Bolsonaro, adianto que não me oponho totalmente ao candidato, mas que creio que numa democracia representativa como vivemos no Brasil, devemos cobrar dos políticos que se comportem de acordo os princípios que perfilam a imagem que passam ao seu eleitorado.

 O Malthusianismo é uma doutrina do século XVIII que afirma que sem contenção, a população crescerá mais que a produção alimentícia, e que por isso esta deve ser controlada. Foi criada pelo iluminista Thomas Malthus, de quem deriva o nome. É de conhecimento geral que as ideias de Malthus não eram corretas, já que não se sustentam matematicamente, mas isso não impede sua proliferação, uma vez que sustentam ideais que são de interesse de muita gente.

 O Neomalthusianismo, a modernização da teoria, perante o avanço tecnológico e a qualidade de vida consequente, afirma que o crecimento populacional é uma ameaça não só pela questão alimentícia, mas que deve ser controlado por seu potencial de causar problemas à qualidade de vida, à economia, e, por vezes, ao planeta. Os Neomalthusianistas argumentam que a alta natalidade é um peso para o Estado, que acaba por ter de investir em educação e saúde, e por isso deve ser combatida.

 Este ideário é eugenista, altamente anticatólico e altamente endossado por globalistas em todo o mundo. Suas influências na história incluem a legalização do aborto, o estabelecimento do planejamento familiar no ocidente, políticas de esterilização, a limitação à natalidade em países como a China. Ela causa, também, crises populacionais, como no Japão.

Bolsonaro apoia medidas neomalthusianistas, embora discorde de algumas das estratégias liberais para atingir estes objetivos. Em vez da educação sexual desde cedo, Bolsonaro defende a disseminação de panfletagem pró-planejamento familiar (incluindo atuação legal nessa direção), a esterilização e os métodos contraceptivos (pró-sexual revolution, à qual um candidato verdadeiramente católico deveria ser contra). 

Bolsonaro relacionando os problemas do mundo à natalidade, e defendendo a laqueadura como solução: aqui.

Essas posições têm sido uma constante em sua carreira:

em 1992 ele dizia: “Devemos adotar uma rígida política de controle da natalidade. Não podemos mais fazer discursos demagógicos, apenas cobrando recursos e meios do governo para atender a esses miseráveis que proliferam cada vez mais por toda esta nação.”

Em  1993: “Defendo a pena de morte e o rígido controle de natalidade, porque vejo a violência e a miséria cada vez mais se espalhando neste país. Quem não tem condições de ter filhos não deve tê-los. É o que defendo, e não estou preocupado com votos para o futuro”.

Em 1993: "Para acabar com a fome e a miséria é preciso controle de natalidade. Fazer laqueadura nas jovens senhoras que estão perambulando gerando mão-de-obra não-especializada... a minha esposa ligou as trompas. Eu acho que vocês vão ligar também... a primeira fase é livre, a segunda, lá no Norte e nas periferias, tem que pegar as mulheres e levar. Não tem direito de ter filhos".

Em 2003: "Já está mais do que na hora de discutirmos uma política que venha a conter essa explosão demográfica, caso contrário ficaremos apenas votando nesta Casa matérias do tipo Bolsa Família, empréstimos para pobres, vale-gás etc"

Em 2008: “Não adianta nem falar em educação porque a maioria do povo não está preparada para receber educação e não vai se educar. Só o controle da natalidade pode nos salvar do caos”

Em 2011: “Tem que dar meios para quem, lamentavelmente, é ignorante e não tem meios controlar a sua prole. Porque nós aqui controlamos a nossa. O pessoal pobre não controla”

Em 2013: “Só tem uma utilidade o pobre no nosso país: votar. Título de eleitor na mão e diploma de burro no bolso, para votar no governo que está aí. Só para isso e mais nada serve, então, essa nefasta política de bolsas do governo”

Em 2018: “Não estou autorizado a falar isso, mas coloquei na mesa. Gostaria que o Brasil tivesse um programa de planejamento familiar. Um homem e uma mulher com educação dificilmente vai querer ter um filho a mais para engordar o programa social dele.”

Seu filho e muitas vezes seu porta-voz, Carlos Bolsonaro, já afirmou abertamente que o Bolsa Família deveria ser direcionado à esterilização de pobres, com fim de estancar a ferida econômica Brasileira: aqui.

Em entrevista, Bolsonaro negou a relação entre controle de natalidade e planejamento familiar:

A expressão "planejamento familiar" defendida por Bolsonaro, nada mais é do que um novo nome para o controle de natalidade. A mudança de nome para "planejamento familiar" simplesmente passa a responsabilidade do controle de natalidade à família, ao passo que a compele para que o controle seja feito. Em vez de coibir a procriação de forma explícita, atua-se na cultura.

O planejamento familiar como política educativa é controle de natalidade ipsis litteris. Doutrinar nas escolas é proibido, mas doutrinar pobres para não terem filhos é aceitável? 

Fica explicada uma de minhas maiores ressalvas para com o candidato. Cabe a nós, na posição de eleitores, exigir um posicionamento mais racional, que não seja baseado em preconceito eleitoreiro e senso comum propagado por globalistas.

Por fim, deve-se atentar ao caráter de imposição imperialista do planejamento familiar -- como evidencia do pelo relatório de Kissinger[1], sobre o qual farei outro post -- , cujos braços incluem instituições como a Planned Parenthood e a UNICEF.

Referências:
 [1] RELATÓRIO DE KISSINGER, disponível em: https://pdf.usaid.gov/pdf_docs/Pcaab500.pdf