segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Dominique Venner: Evola, filosofia e ação direta

Considerado por alguns como "o maior pensador tradicionalista do ocidente", Julius Evola (1898-1974) sempre teve relações difíceis com o MSI (Movimento Social Italiano) enquanto exercia certa influência nos círculos mais radicais, como a FAR (Fasci di Azione Rivoluzionaria) em seu tempo, e posteriormente a Ordine Nuovo e a Avanguardia Nazionale. Evola se manteve às margens do Fascismo durante o Ventennio (1922-1943) e, apesar de suas críticas, ainda manteve solidariedade para com a República Social da Itália após 1943. Influenciado por ambos Nietzsche e Guénon, ele cultivou o desprezo ao plebeu e a glorificação do além-homem. Juntou-se a Guénon em sua interpretação da história como um processo de decadência e involução conduzindo, de acordo com a tradição hindu, ao Kali Yuga, a era demoníaca que precede o retorno ao caos primordial. Contudo, estava pronto a reconhecer que certas formas políticas, mais ou menos em acordo com seu conceito hierárquico de Tradição, poderiam abrandar o declínio. Essa era sua interpretação do fascismo, na medida que este, por sua tentativa de reabilitar os valores heroicos, constituía um desafio às sociedades modernas e ao homem sem face.

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Julius Evola

Aos olhos dos militantes ou intelectuais da jovem geração pós-fascista, Evola apresentou a vantagem de proceder de uma vigorosa crítica interna do fascismo sem ceder ao antifascismo. Ele ofereceu uma coerente e sofisticada "visão de mundo", impiedosa com a modernidade, à qual ele opunha uma construção muito mais radical e absoluta que a do fascismo. Condenando, por exemplo, o nacionalismo por sua inspiração "naturalista", Evola opôs a ele a "raça do espírito", e a "ideia, nossa verdadeira pátria". O que contava, ele dizia, "não é compartilhar da mesma terra ou falar a mesma linguagem, é compartilhar da mesma ideia". Que ideia? De que uma ordem superior, que a Roma Antiga, a Cavalaria Medieval e a Prússia expressaram. Ele propunha um estilo de vida feito com severidade, disciplina, durabilidade, sacrifício, praticado como ascetismo. Evola não era um espírito puro. Ele serviu na artilharia durante a Primeira Guerra Mundial, e foi, em sua juventude, um distinto alpinista, autor da admirável obra "Meditações nos Picos". Em sua morte, suas cinzas foram depositadas no cume de Monte Rosa.

 Por volta de 1950, então acreditando nas chances do MSI, Evola queria dar uma "bíblia" dos guerreiros aos jovens militantes deste movimento: essa foi sua obra "Homens entre as ruínas", prefaciado com um ensaio por Junio Valerio Borghese. Suas esperanças foram frustradas, ele desistiu do MSI e de toda a ação política no início de 1957. Ele publicaria "Monte o Tigre" um pouco depois (1961), um trabalho difícil que contradizia seu predecessor. Ele declarou em substância que em um mundo indo à sua ruína, nada era digo de se salvar, o único imperativo categórico seria seguir o caminho interior com um desapego perfeito de tudo que nos cerca, mas assumindo que o que a vida oferece é dor e tragédia. Essa mensagem levantou controvérsias na seita daqueles ironicamente chamados de “as Testemunhas de Evola”. Alguns a entendiam como um convite para se retirar do mundo, e outros como um convite para dinamitar a sociedade decadente. É essa parte da mensagem que seria entendida pelos adeptos italianos do ativismo brutal que se manifestariam no decorrer dos “anos de chumbo”.

O que Ride the Tiger expressava era o reflexo do desgosto que o pântano de políticas parlamentares mesquinhas em que o MSI afundou poderia inspirar até nos mais idealistas. Mas, mais além, a evolução da sociedade ocidental e italiana se submetendo ao domínio do consumismo e do materialismo.

No correr das décadas seguintes, a generalização da violência e do terrorismo na esquerda tiveram alguns efeitos importantes sob a direita radical que influenciaram o filósofo. As duas principais organizações extra-parlamentares, Ordine Nuovo e Avanguardia Nazionale, tendo sido dissolvidas em 1973, foram à ilegalidade.  Mas essa estratégia foi quebrada por uma repressão direta.

No entanto, uma nova geração estava trabalhando e fizera uma leitura superficial de Evola. Nascida depois de 1950, alheia à memória histórica do fascismo, criticou de bom grado a “velha guarda” do MSI e os monstros igualmente sagrados da direita ativista, do tipo Borghese, e sua estratégia obsoleta do golpe de estado. Eles proclamaram enfaticamente o fim da ideologia e a primazia da ação. Para esta geração de militantes muito jovens, antes do vazio dos antigos valores mortos, o combate permaneceu como um valor existencial. “Não é para o poder que aspiramos, nem para a criação de uma nova ordem”, lia-se em 1980 no Qex, boletim de prisioneiros políticos da direita. “É a luta que nos interessa, é ação em si, a afirmação de nossa própria natureza.” A influência de Ride the Tiger foi evidente. Mas aquilo que, segundo Evola, deveria ter resultado em um ascetismo interno, foi aqui reduzido ao seu significado literal mais brutal, pela identificação com o mito simplista do “guerreiro”. Essa derivação levou à teorização sumária da “espontaneidade armada” tanto quanto recuar para uma torre de marfim esotérica.


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Dominique Venner

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